Narrativas e Autoridade espiritual

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2 Coríntios 10.1-18

Mensagem: A autoridade espiritual do servo de Jesus Cristo está fundamentada no relacionamento com Cristo, no poder da Palavra de Deus e no caráter íntegro conforme o padrão divino

Esboço

Introdução

A. Recordando

#14 Mensagem – Pobres ricos & Ricos pobres: A riqueza que empobrece e a pobreza que enriquece, 2 Coríntios 8:1-9.15. Vimos que “Na economia do Reino de Deus, a verdadeira riqueza não é material, mas espiritual e relacional, manifestada como a generosidade, o altruísmo e outras marcas de um caráter que reflete a graça de Cristo”. 

B. Autoridade espiritual 

Nos capítulos 10 a 13 de 2 Coríntios, o apóstolo Paulo discorre sobre a sua vida e autoridade — em contraste com a dos falsos apóstolos — diante dos questionamentos que havia na igreja em Corinto a respeito da sua vida e da autoridade apostólica.

Vivemos em dias nos quais, cada vez mais, as narrativas criam uma “verdade”  em detrimento dos fatos. Não importam os fatos, mas sim quem cria as narrativas, quais meios as comunicam, o alcance e a maciça repetição das mesmas pelos diversos canais de comunicação. Há uma insana credulidade e uma estarrecedora cegueira para se pesquisar, enxergar e compreender os fatos que vão além das narrativas.

E essa realidade não é diferente no mundo espiritual, onde narrativas humanas visam desconstruir a verdade divina, ignorando o Autor dela e os fatos revelados em Cristo e nas Escrituras.

O apóstolo Paulo enfrentou várias narrativas a seu respeito…

No capítulo 10, podemos ver algumas das narrativas que havia na igreja em Corinto a respeito de Paulo:

– andava segundo os padrões humanos, mundanos, v. 2.

– a presença pessoal  era fraca, e a palavra, desprezível, v.10 (ao contrário de Apolo, que era tido como um grande orador, forte na palavra, At 18.24; 1 Co 3.4);

Em meio a um contexto negativo e potencialmente desmotivador para o viver e servir em Cristo, Paulo tinha convicção da fonte da sua autoridade: o Senhor Jesus Cristo.

2 Co 10.8a  Porque, se eu me gloriar um pouco mais a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu

A “autoridade espiritual” não é inerente ao cristão em si mesmo, mas é delegada e mediada pelo próprio Senhor Jesus Cristo. 

Em Marcos 3 lemos: 13 Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. 14 Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar 15 e a exercer a autoridade de expelir demônios.  

 Em Mateus 28.18, lemos: “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.” E é sob a Sua autoridade que Cristo ordena: “Ide, portanto…”

Assim como Paulo e os demais apóstolos de Cristo, também os verdadeiros cristãos — movidos pelo Espírito Santo, arrependidos de seus pecados e que creem em Jesus Cristo pela fé como único e suficiente Salvador — recebem do Senhor Jesus Cristo autoridade espiritual para o serviço em Seu Nome.

A autoridade espiritual do servo de Jesus Cristo está fundamentada no relacionamento com Cristo, no poder da Palavra de Deus e no caráter íntegro conforme o padrão divino

Analisemos 2 Coríntios 10 e consideremos as implicações e os desafios do viver em Cristo.

I. Autoridade espiritual fundamentada: no relacionamento com Cristo.

2 Co 10.7 Observai o que está evidente. Se alguém confia em si que é de Cristo, pense outra vez consigo mesmo que, assim como ele é de Cristo, também nós o somos 8a Porque, se eu me gloriar um pouco mais a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação

O apóstolo Paulo tinha a convicção de que ele, assim como Timóteo (1.1), era servo de Cristo (11.23) pela vontade de Deus (1.1). E, segundo a ampla revelação das Escrituras, vemos que ele se tornou servo e apóstolo primeiramente por sua conversão a Cristo, conforme narrado em Atos, capítulo 9.

E, em 1 Timóteo  o próprio apóstolo testemunha:

1.12 Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, 13 a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade. 14 Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus.  

E é em Cristo que ele inicia o capítulo 101a “E eu mesmo, Paulo, vos rogo, pela mansidão e benignidade de Cristo …”.

Paulo foi alcançado pela graça e misericórdia do Senhor Jesus Cristo, tendo sido reconciliado com Deus. E esse relacionamento, como de filho de Deus, é um dos fundamentos da autoridade espiritual.

Desafio (1):

A conversão a Cristo como único e suficiente Salvador, que torna o ser humano filho de Deus, é a condição básica e primeira para receber Dele a autoridade espiritual para viver e servir em Seu Nome, no Espírito Santo.

Jo 1.12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome.

2 Co 5.18 Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, 19 a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. 20 De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus.  

II. Autoridade espiritual fundamentada: no poder da Palavra de Deus.

10.3 Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. 4 Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas 5 e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, 6 e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão

Devemos usar as armas espirituais, de Deus, pois são poderosas para derrubar:

A. Fortalezas 

‘ochuroma’, “qualquer coisa em que alguém confia 2a) dos argumentos e raciocínios pelo qual um disputador esforça-se para fortificar sua opinião e defender-la contra seu oponente” (RA Strong,s)

B. Raciocínios

‘Logismos’: argumentos, raciocínos, sofismas (argumento aparentemente válido, mas falso, formulado com o propósito de induzir ao erro)…

C. Altivez 

‘hupsoma’ – orgulho, altivez, autoexaltação…

O conhecimento — entendido como ciência oposta a Deus — se levanta contra o conhecimento de Deus (2 Coríntios 10:5).

Fortalezas – Raciocínios – altivez – referências as reflexões, aos pensamentos humanos ao conhecimento de Deus e a a obediência a Cristo,

O ser humano emprega seus loucos pensamentos para se fortalecer contra o conhecimento de Deus e Seu chamado à obediência.

O verdadeiro saber humilha o ser humano diante de Deus. Alguém já declarou: “Pouca ciência nos afasta de Deus, muita ciência nos aproxima de Deus”.

Desafio (2):

As armas espirituais — oração e Palavra de Deus — são poderosas para destruir tudo que se opõe ao conhecimento de Deus: opiniões, ambições humanas, valores errados, ignorância espiritual, saber humano, filosofias, etc.

Todas estas coisas são derrotadas pela verdade divina. O erro se combate com a verdade, orando em todo o tempo no Espírito (cf. 2 Co 4.3-6; 6.7; Ef 6.10-20).

2 Co 6.7 na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas;  

O poder de Deus destrói o que se opõe a Cristo e leva à obediência (Rm 1.5; 16.26).

Portanto, se és cristão, mantenha-se obediente a Cristo, pois toda a desobediência será punida (v. 6; 7.5; Jo 3.36).

III. Autoridade espiritual fundamentada: no caráter íntegro conforme o padrão divino.

Entre outras características o caráter íntegro conforme o padrão de Deus: 

A. Milita com armas poderosas em Deus, vv. 3,4

10.3 Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. 4a Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus

Paulo tinha plena consciência da sua humanidade — “andando na carne” (ou seja, sendo gente). No entanto, não militava “segundo a carne”, isto é, não se limitava ou não se guiava apenas pelas leis e limitações comuns à natureza humana, como a pecaminosidade, a fraqueza, a timidez e os desgastes..

Ele militava com as armas poderosas em Deus – na dependência e na capacitação de Deus.

B. Foca o que é agradável a Deus, vv. 7,8

10.8 Porque, se eu me gloriar um pouco mais a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação e não para destruição vossa, não me envergonharei, 9 para que não pareça ser meu intuito intimidar-vos por meio de cartas.  

Os coríntios estavam enganados a respeito de Paulo, dos seus aparentes propósitos. Ele não focava sua própria glória  e nem a vergonha deles (7.14; 12.6). Ele focava a edificação deles conforme o propósito da autoridade que lhe foi conferida pelo Senhor.

Nesse contexto do agir de modo agradável a Deus, Paulo como já vimos em mensagem anterior perseguia o viver autêntico, sem hipocrisia: “10  As cartas, com efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença pessoal dele é fraca, e a palavra, desprezível. 11 Considere o tal isto: que o que somos na palavra por cartas, estando ausentes, tal seremos em atos, quando presentes.  

C. Respeita os limites da esfera demarcada por Deus, vv.13-16

10.13 Nós, porém, não nos gloriaremos sem medida, mas respeitamos o limite da esfera de ação que Deus nos demarcou e que se estende até vós. 14 Porque não ultrapassamos os nossos limites como se não devêssemos chegar até vós, posto que já chegamos até vós com o evangelho de Cristo; 15 não nos gloriando fora de medida nos trabalhos alheios e tendo esperança de que, crescendo a vossa fé, seremos sobremaneira engrandecidos entre vós, dentro da nossa esfera de ação, 16 a fim de anunciar o evangelho para além das vossas fronteiras, sem com isto nos gloriarmos de coisas já realizadas em campo alheio.  

Paulo reconhecia a esfera de ação dentro do limite demarcado por Deus, limite este que incluía os coríntios. Ele não se gloriava nos trabalhos de outros, mas tinha consciência da missão de anunciar o evangelho além da esfera dos coríntios. O objetivo era não se apropriar da glória das coisas já realizadas por outros em campo alheio (cf. Rm 15.18-21).

D. Regozija-se no louvor que vem do Senhor, vv.12,7,18

10.12 Porque não ousamos classificar-nos ou comparar-nos com alguns que se louvam a si mesmos; mas eles, medindo-se consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos, revelam insensatez. […] 17 Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. 18 Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, e sim aquele a quem o Senhor louva. 

Paulo não ousava se igualar e comparar com aqueles que se louvavam a si mesmos (v. 12).  Ele não era soberbo, gloriando em si mesmo, mas reconhecia com alegria o fruto do seu trabalho na graça de Deus com ele. (Cf. 1 Co 15.10; Rm 12.3).

“Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor” (v. 17).

O que é motivo de regozijo não é a autoapreciação, mas sim a recomendação, o reconhecimento que vem de Deus (cf. v. 18; 1 Co. 4.1-4; 1 Co. 15.9-11).

Desafio (3):

Cristãos de caráter íntegro conforme o padrão de Cristo:

Batalham o bom combate da fé armas poderosas em Deus, vv. 3,4; Focam o que é agradável a Deus, vv. 7,8; Respeitam os limites da esfera demarcada por Deus, vv.13-16;  Regozijam-se no louvor que vem do Senhor, vv.12,7,18

Conclusão

Lembre-se: Vivemos em dias nos quais, cada vez mais, as narrativas criam uma “verdade”  em detrimento dos fatos. Não importam os fatos, mas sim quem cria as narrativas, quais meios as comunicam, o alcance e a maciça repetição das mesmas pelos diversos canais de comunicação. Há uma insana credulidade e uma estarrecedora cegueira para se pesquisar, enxergar e compreender os fatos que vão além das narrativas.

E essa realidade não é diferente no mundo espiritual, onde narrativas humanas visam desconstruir a verdade divina, ignorando o Autor dela e os fatos revelados em Cristo e nas Escrituras.

 Neste universo há o imperativo de ser um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo com “autoridade espiritual”.

A “autoridade espiritual” não é inerente ao cristão em si mesmo, mas é delegada e mediada pelo próprio Senhor Jesus Cristo. 

A autoridade espiritual do servo de Jesus Cristo está fundamentada no relacionamento com Cristo, no poder da Palavra de Deus e no caráter íntegro conforme o padrão divino

As implicações e os de desafios  em 2 Coríntios 10:

(1) A conversão a Cristo como único e suficiente Salvador, que torna o ser humano filho de Deus, é a condição básica e primeira para receber Dele a autoridade espiritual para viver e servir em Seu Nome, no Espírito Santo.

(2) As armas espirituais — oração e Palavra de Deus — são poderosas para destruir tudo que se opõe ao conhecimento de Deus: opiniões, ambições humanas, valores errados, ignorância espiritual, saber humano, filosofias, etc.

Todas estas coisas são derrotadas pela verdade divina. O erro se combate com a verdade, orando em todo o tempo no Espírito.

(3) Cristãos de caráter íntegro conforme o padrão de Cristo:

Batalham o bom combate da fé armas poderosas em Deus; Focam o que é agradável a Deus; Respeitam os limites da esfera demarcada por Deus;  Regozijam-se no louvor que vem do Senhor.

Lembre-se:

A sua responsabilidade, debaixo da graça e capacitação divina é a de modo perseverante, e confiante aplicar os princípios e as verdades divinas que tens ouvido (Fp 2.12, 13; 1 Tm 4.7-9; Tg 1.22-27).

Como eu posso colocar isso em prática na minha vida?

Qual o primeiro passo que darei nessa direção (para que haja real transformação em minha vida)?

Conheça… Creia. Aproprie-se… E, pratique a verdade divina para que experimentes a vida plena que há em Jesus Cristo (João 10.10).

Bibliografia

Bíblias

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  • Bíblia de Estudo da Fé Reformada. Editada por R.C. Sproul. São Paulo: Editora Fiel e Ligonier Ministries, 2022.
  • Bíblia de Estudo MacArthur. Editada por John MacArthur Jr. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.

Comentários e Léxicos

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  • The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Vol. 2. Wheaton, IL: Victor Books.
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Obras Teológicas e Estudos

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Ferramentas Digitais

  • E-Sword x
  • Logos Bible Software
  • Olive Tree – Bible Study – RA Strong,s

Informações Adicionais

  • Nota: Esta série de estudos foi desenvolvida a partir de mensagens pregadas em RAO, São Paulo, Brasil, nos anos de 2006, 2007 e 2021. Algumas notas e referências bibliográficas foram perdidas ao longo do tempo.

Mensagens Bíblicas

Satisfação e vitória em Cristo

Série em 2 Coríntios 

#15, Mensagem   

Domingos Mendes Alves 

@paraoalvo

08.10.2025

Last modified: October 8, 2025